terça-feira, maio 29, 2007

A Reeducação Postural é segura para as hérnias discais?

Se há grupo de doentes que tenho medo de encontrar nas minhas classes de reeducação postural são aqueles que possuem uma condição álgica aguda. O modelo mais flagrante corresponde à existência de hérnia discal lombar em fase aguda com ou sem ciatalgia. Diga-se de passagem que o princípio da deslordose pode ser flagrantemente perigoso no caso destes doentes. Os tradicionais “queixo ao peito” e “retroversão da bacia” não parecem dar grandes resultados no respeitante aos sintomas de fase aguda de herniação. Aliás, já tive maus resultados no tratamento de hérnias cervicais com a utilização de certas posturas do RPG. Daí que possua muitas reservas quanto à utilização de posturas de reeducação postural, paradigmaticamente realizadas em flexão, nos casos de doentes com hérnias de disco.
E mais uma vez refiro que não acredito muito na osteopatia ou na quiroprática para o bom tratamento de hérnias discais. A meu ver, a simples tracção manual constitui a melhor forma de tratar hérnias cervicais. Podem referir Maitland, McKenzie, Mulligan, Janda, Cyriax, Kaltenborn, o que quiserem, mas para as hérnias cervicais só utilizo duas coisas: tensão neural adversa para avaliação inicial e reavaliação + tracção manual. Os resultados costumam ser imediatos. Terapias manuais podem ser fantásticas para outras condições. Mas não para as hérnias da cervical.
Relativamente às hérnias lombares, a história já é um pouco diferente. Aqui acredito que o método de Maitland é o mais eficaz, sendo que dispenso as tracções e também as extensões passivas.
É claro que a ordem de preferências dos diversos terapeutas dependerá, em grande parte, da formação básica e profissional que possuam, para além de uma certa subjectividade preferencial.
Não é muito comum um fisioterapeuta da área reeducativa, como é o meu caso, interessar-se por terapias manuais. Há obviamente excepções mas, para mim, a reeducação postural é tudo, preferindo a prevenção ao tratamento manipulativo eventualmente deletério.
Ainda assim, admiro o bom terapeuta manual. E entregar-me-ia muito mais rapidamente a um destes terapeutas do que a um osteopata formado aqui em Portugal (obviamente, não comparável com o osteopata formado, por exemplo, em Oxford). Também aceito que as diferentes técnicas de “terapia manual” encarnam um certo marketing, difícil de explicar. Por exemplo, já alguém se deu ao trabalho de comparar as técnicas de Cyriax com as de McKenzie? Ou as de Maitland com as de Kaltenborn? Há diferenças, obviamente. E só o leigo é incapaz de as reconhecer. Mas será que as diferenças inerentes aos próprios métodos resultam em diferenças relevantes nos resultados? Em relação a isso, provavelmente, só os especialistas da área poderão responder...

 

sexta-feira, maio 18, 2007

"O Corpo Humano como nunca o viu…”

É o título de uma exposição que está, neste momento, a decorrer em Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, aquela rua onde tantas vezes visitei o museu de História Natural...
Apesar de estar a decorrer uma série de campanhas de promoção de bilhetes para a exposição, não pode deixar de se sublinhar que a visita à mesma acarreta preços proibitivos, com os bilhetes a custarem cerca de vinte euros cada. A questão agora é simples: será que vale a pena?... E a resposta é também simples: vale a pena para quem estuda anatomia, não vale a pena para quem já estudou anatomia. Ou seja, esta é uma exposição interessante para os iniciados nos estudos anatómicos, principalmente para todos aqueles que queiram apropriar-se de uma visão realista e proporcionada das estruturas anatómicas, mas é uma exposição um tanto infantil para todos aqueles que já têm experiência de estudo de manuais anatómicos, principalmente se, como é o meu caso, estudaram por livros de cadáveres.
A exposição é um tanto infantil, possuindo informações extremamente lineares para quem é profissional de saúde. Por outro lado, podemos considerar que é uma exposição obrigatória para todos os interessados, principalmente aqueles curiosos que não são da área.
Uma consideração a ter em conta: a nónima do que é mostrado. Talvez a parte mais infeliz da exposição corresponde aos termos anatómicos utilizados. Infelizmente não são termos portugueses, mas sim brasileiros. Por exemplo, o “vasto interno do quadricípete” é designado por “vasto medial do quadríceps”, e assim por diante. Não tenho nada contra os termos brasileiros, ainda mais porque estes são, nada mais nada menos, que a tradução portuguesa dos termos americanos. Mas os termos anatómicos estão anos luz mais adaptados à nossa cultura tal como aparecem, por exemplo, nos manuais “Anatomia humana da...” de Esperança Pina.