segunda-feira, maio 31, 2010

Facebook e a questão da privacidade

Agora que todos falam do Facebook e da questão da "invasão da privacidade", gostaria de dizer umas quantas palavras sobre isso. Não há ninguém que seja mais crítico relativamente às inovações do tipo "redes sociais" e "Ipad" quanto eu. Acredito até que estas "modernices" representem o fim hipotético de um mundo que tem muito mais graça, que é o mundo dos livros bolorentos e dos engates em real time. Por outro lado, sabidamente também eu me traí e também eu criei uma página no Facebook. É verdadeiramente um defeito. Mas é um defeito que assumo consciente e responsavelmente. E acredito que a maioria das pessoas ligadas a esta rede social tem plena noção daquilo que acarreta a sua subscrição. Daí não entender toda esta "prosódia" sobre o ataque à privacidade. Pois, quem coloca um perfil no Facebook sabe perfeitamente que está a criar uma brecha na sua privacidade e, suponho eu, está a responsabilizar-se por esse acto. Dizendo de outro modo, quando coloco informações nas redes sociais, sei perfeitamente que toda a gente vai ter acesso àqueles dados; aliás, o objectivo é esse mesmo. Depreendo obrigatoriamente que aquele é um espaço em que autorizo a sua revelação. Por isso, não entendo a questão da "Privacidade", visto que, talvez exceptuando as crianças pequenas, essa é uma questão da pura "liberdade responsável" dos utentes das redes.

Publicado parcialmente no Correio dos Leitores do Jornal "I"

domingo, maio 02, 2010

O elogio da dança contemporânea

Disse já várias vezes que as terapias de âmbito expressivo, como a psicomotricidade ou a dançoterapia, constituem o futuro da reeducação postural. É que, a evoluir no sentido de um conceito essencialmente “neurodinâmico”, porque “postura” se trata essencialmente de área neurológica e não tanto orto-reumatológica, a reeducação postural só poderá mesmo avançar no sentido que Bobath conseguiu tão bem explanar em termos mais teoréticos.
Podemos chamar-lhe imensas coisas: Chi-Kung, Tai-chi ou PNF-Chi, Temple Fay, Phelps, Affolter ou Bobath, psicomotricidade, psicodrama ou terapias expressivas... Todas têm em comum a fenomenologia facilitatória e de baixo-impacto das forças expressivas de um ser humano criativo. Já falámos várias vezes da questão dos “paradigmas” e das similitudes entre os diversos métodos (a questão das diferenças semióticas dos diversos modelos de intervenção). Por isso, não vale a pena batermos no ceguinho. Agora estou em fase de experimentar a dança contemporânea, essa prática que integra um pouco de tudo aquilo que referi atrás. Essa prática que podia ser vista como um PNF ou um Bobath aplicados a um corpo heurístico, mas com um nome diferente: dança contemporânea, movimento contemporâneo, dança ou movimento expressivo, dança ou movimento livre, etc.
A dança contemporânea ou expressiva, que tenho praticado, constitui, na teoria, uma desconstrução do ballet e das suas estruturas e/ou regras mais ou menos rígidas. É uma prática que dá espaço ao corpo e à relação corpo-mente para falarem livremente, como se cada gesto fosse o resultado do mais puro e duro livre-arbítrio. Inclui também o funcionamento como um todo, padronizado, algo que já é perspectivado há milénios pelo Yoga e pelo Chi-kung, e há séculos pelos bailarinos, algo que foi intelectualizado – e não descoberto – pelos fisioterapeutas da “facilitação neuromuscular” ou das técnicas de “facilitação e inibição”...
E, para tornar tudo mais perfeito, tudo o que ando a defender há anos está presente nas mentes dos bailarinos: o relaxamento e o alongamento a frio a iniciarem o “treino”, o trabalho de inibição tónica por meio do treino de movimentos facilitatórios (Bobath? Alexander? Feldenkrais? Reconstrução Postural?... Que interessa o nome que os fisioterapeutas lhe dêem...), a consciencialização corporal e postural, a vivência do movimento criativo sem esforço, a integração sensorial, o treino proprioceptivo, o desafio constante ao equilíbrio (físico? Mental?...) a concepção espácio-temporal, o relaxamento (do corpo? Da mente? Da estrutura que os integra?...), e a consubstanciação expressiva da criatura (supostamente) livre que nos enforma.
Tenho só coisas boas a dizer destas minhas experiências com a dança. Como seria bom que todo o mundo da “hipermodernidade” (para utilizar o termo do cada vez mais modal Lipovetsky) do fitness aprendesse algo com estas experiências da arte do movimento (movimento? Postura?...).